(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
Ó Pátria amada.
Idolatrada,
Salve! Salve!
Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro dessa flâmula
— “Paz no futuro e glória no passado.”
Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada, Brasil!
Hino Nacional do Brasil. Letra: Joaquim Osório Duque Estrada. Música: Francisco Manuel da Silva (fragmento).
O uso da norma-padrão na letra do Hino Nacional do Brasil é justificado por tratar-se de um(a)
A letra do Hino Nacional do Brasil pertence a um gênero caracterizado pela solenidade e, nesse uso patriótico de linguagem, por sua natureza protocolar, é exigida a norma culta.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
SILVA, L.; SANTOS. M. E. P.; JUNG. N. M. Domínios de Lingu@gem. n. 4. out-dez 2016 (adaptado).
A fotografia exibe a fachada de um supermercado em Foz do Iguaçu, cuja localização transfronteiriça é marcada tanto pelo limite com Argentina e Paraguai quanto pela presença de outros povos. Essa fachada revela o(a)
Dada a localização fronteiriça do estabelecimento comercial referido, por onde transitam pessoas de diferentes nacionalidades, o uso do vocábulo “supermercado”, escrito em idiomas diversos (português, inglês, alemão, espanhol, chinês e árabe) evidencia a existência do “planejamento linguístico no espaço urbano”.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
O trabalho não era penoso: colar rótulos, meter vidros em caixas, etiquetá-las, selá-las, envolvê-las em papel celofane, branco, verde, azul, conforme o produto, separá-las em dúzias... Era fastidioso. Para passar mais rapidamente as oito horas havia o remédio: conversar. Era proibido, mas quem ia atrás de proibições? O patrão vinha? Vinha o encarregado do serviço? Calavam o bico, aplicavam-se ao trabalho. Mal viravam as costas, voltavam a taramelar. As mãos não paravam, as línguas não paravam. Nessas conversas intermináveis, de linguagem solta e assuntos crus, Leniza se completou. Isabela, Afonsina, Idália, Jurete, Deolinda – foram mestras. O mundo acabou de se desvendar. Leniza perdeu o tom ingênuo que ainda podia ter. Ganhou um jogar de corpo que convida, um quebrar de olhos que promete tudo, à toa, gratuitamente. Modificou-se o timbre de sua voz. Ficou mais quente. A própria inteligência se transformou. Tornou-se mais aguda, mais trepidamente.
REBELO. M. A estrela sobe. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009.
O romance, de 1939, trazer à cena tipos e situações que espelham o Rio de Janeiro daquela década. No fragmento. O narrador delineia esse contexto centrado no
No texto, evidencia-se a relação entre as mudanças urbanas e os papéis femininos desempenhados. O narrador apresenta um cenário típico da década de 30 no Rio de Janeiro, utilizando personagens femininas em um ambiente profissional em que as mulheres são a força de trabalho e sofrem mudanças comportamentais devido ao convívio com outras mulheres.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
A imagem da negra e do negro em produtos de beleza e a estética do racismo
Resumo: Este artigo tem por finalidade discutir a representação da população negra, especialmente da mulher negra, em imagens de produtos de beleza presentes em comércios do nordeste goiano. Evidencia-se que a presença de estereótipos negativos nessas imagens dissemina um imaginário racista apresentado sob a forma de uma estética racista que camufla a exclusão e normaliza a inferiorização sofrida pelos(as) negros(as) na sociedade brasileira. A análise do material imagético aponta a desvalorização estética do negro, especialmente da mulher negra, e a idealização da beleza e do branqueamento a serem alcançados por meio do uso dos produtos apresentados. O discurso midiático-publicitário dos produtos de beleza rememora e legitima a prática de uma ética racista construída e atuante no cotidiano. Frente a essa discussão, sugere-se que o trabalho antirracismo. feito nos diversos espaços sociais, considere o uso de estratégias para uma “descolonização estética” que empodere os sujeitos negros por meio de sua valorização estética e protagonismo na construção de uma ética da diversidade.
Palavras-chave: Estética, racismo, mídia, educação, diversidade.
SANT'ANA, J. A imagem da negra e do negro em produtos de beleza e a estética do racismo. Dossiê: trabalho e educação básica. Margens Interdisciplinar. Versão digital. Abaetetuba, n. 16. jun. 2017 (adaptado).
O cumprimento da função referencial da linguagem é uma marca característica do gênero resumo de artigo acadêmico. Na estrutura desse texto, essa função é estabelecida pela
Predomina no texto a função referencial da linguagem, visto que o texto privilegia a informação em linguagem denotativa.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
ROSA, R. Grande sertão: veredas: adaptação da obra de João Guimarães Rosa. São Paulo: Globo, 2014 (adaptado).
A imagem integra uma adaptação em quadrinhos da obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Na representação gráfica, a inter-relação de diferentes linguagens caracteriza-se por
Tanto os ícones como a linguagem verbal enfatizam a dramaticidade. Na imagem, a cor escura do animal, o close na mão com o revólver evidenciam a tensão, a presença do demo. Palavras como “tiro”, “mataram” e a onomatopeia “Pam!” indicam a violência nesses quadrinhos sobre Grande sertão: veredas.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
Tanto os Jogos Olímpicos quanto os Paralímpicos são mais que uma corrida por recordes, medalhas e busca da excelência. Por trás deles está a filosofia do barão Pierre de Coubertin, fundador do Movimento Olímpico. Como educador, ele viu nos Jogos a oportunidade para que os povos desenvolvessem valores, que poderiam ser aplicados não somente ao esporte, mas à educação e à sociedade. Existem atualmente sete valores associados aos Jogos. Os valores olímpicos são: a amizade, a excelência e o respeito, enquanto os valores paralímpicos são: a determinação, a coragem, a igualdade e a inspiração.
MIRAGAYA, A. Valores para toda a vida. Disponível em: www.esporteessencial.com.br. Acesso em: 9 ago. 2017 (adaptado).
No contexto das aulas de Educação Física escolar, os valores olímpicos e paralímpicos podem ser identificados quando o colega
Os valores olímpicos e paralímpicos são confirmados no texto apresentado na alternativa B, que inclui a igualdade de oportunidades e a amizade entre os participantes.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
Mais big do que bang
A comunidade científica mundial recebeu, na semana passada, a confirmação oficial de uma descoberta sobre a qual se falava com enorme expectativa há alguns meses. Pesquisadores do Centro de Astrofísica HarvardSmithsonian revelaram ter obtido a mais forte evidência até agora de que o universo em que vivemos começou mesmo pelo Big Bang, mas este não foi explosão, e sim uma súbita expansão de matéria e energia infinitas concentradas em um ponto microscópico que, sem muitas opções semânticas, os cientistas chamam de “singularidade”. Essa semente cósmica permanecia em estado latente e, sem que exista ainda uma explicação definitiva, começou a inchar rapidamente [ .. .]. No intervalo de um piscar de olhos, por exemplo, seria possível, portanto, que ocorressem mais de 10 trilhões de Big Bangs.
ALLEGRETTI. F. Veja. 26 mar. 2014 (adaptado).
No título proposto para esse texto de divulgação científica, ao dissociar os elementos da expressão Big Bang, a autora revela a intenção de
A valorização da palavra “big” revela que a autora do texto tem a intenção de mostrar que a origem do universo provém de uma “semente cósmica” que começou a expandir-se muito rápido.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
Disponível em: www.separeolixo.gov.br. Acesso em: 4 dez. 2017 (adaptado).
Nessa campanha, a principal estratégia para convencer o leitor a fazer a reciclagem do lixo é a utilização da linguagem não verbal como argumento para
Na campanha, a linguagem não verbal (lixeiras, garrafa PET, fita métrica, tesoura, linha, tecido) sugere o reaproveitamento do lixo.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
TEXTO I
Também chamados impressões ou imagens fotogramáticas [ ... ], os fotogramas são, numa definição genérica, imagens realizadas sem a utilização da câmera fotográfica, por contato direto de um objeto ou material com uma superfície fotossensível exposta a uma fonte de luz. Essa técnica, que nasceu junto com a fotografia e serviu de modelo a muitas discussões sobre a ontologia da imagem fotográfica, foi profundamente transformada pelos artistas da vanguarda, nas primeiras décadas do século XX. Representou mesmo, ao lado das colagens, foto montagens e outros procedimentos técnicos, a incorporação definitiva da fotografia à arte moderna e seu distanciamento da representação figurativa.
COLUCCI, M. B. Impressões fotogramáticas e vanguardas: as experiências de Man Ray. Studium, n. 2, 2000.
TEXTO II
RAY, M. Rayograph, 1922. 23,9 x 29,9 cm. MOMA, Nova York. Disponível em: www.moma.org. Acesso em: 18 abro 2018 (adaptado).
No fotograma de Man Ray, o “distanciamento da representação figurativa” a que se refere o Texto I manifesta-se na
A imagem apresentada comprova o que se afirma no texto I sobre o distanciamento da representação figurativa na arte.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
Eu sobrevivi do nada, do nada
Eu não existia
Não tinha uma existência
Não tinha uma matéria
Comecei existir com quinhentos milhões e quinhentos mil anos
Logo de uma vez, já velha
Eu não nasci criança, nasci já velha
Depois é que eu virei criança
E agora continuei velha
Me transformei novamente numa velha
Voltei ao que eu era, uma velha
PATROCÍNIO, S. In: MOSÉ, v. (Org.). Reino dos bichos e dos animais é meu nome. Rio de Janeiro: Azougue, 2009.
Nesse poema de Stela do Patrocínio, a singularidade da expressão lírica manifesta-se na
A singularidade do poema manifesta-se por meio da quebra da expectativa do que se afirma em relação a referências temporais não plausíveis.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
A história do futebol é uma triste viagem do prazer ao dever. [ ... ] O jogo se transformou em espetáculo, com poucos protagonistas e muitos espectadores, futebol para olhar, e o espetáculo se transformou num dos negócios mais lucrativos do mundo, que não é organizado para ser jogado, mas para impedir que se jogue. A tecnocracia do esporte profissional foi impondo um futebol de pura velocidade e muita força, que renuncia à alegria, atrofia a fantasia e proíbe a ousadia. Por sorte ainda aparece nos campos, [ ... ] algum atrevido que sai do roteiro e comete o disparate de driblar o time adversário inteirinho, além do juiz e do público das arquibancadas, pelo puro prazer do corpo que se lança na proibida aventura da liberdade.
GALEANO, E. Futebol ao sol e à sombra. Porto Alegre: L&PM Pockets, 1995 (adaptado).
O texto indica que as mudanças nas práticas corporais, especificamente no futebol,
No texto, Eduardo Galeano comenta o viés mercadológico que tomou conta do futebol, transformando-o em “um dos negócios mais lucrativos do mundo”, um produto a ser consumido, inibindo a criatividade dos jogadores e tornando o esporte mais técnico.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
Fotografia: LUCAS HALLEl. Disponível em: www.flickr.com.Acessoem: 16 abro 2018 (adaptado).
O grupo O Teatro Mágico apresenta composições autorais que têm referências estéticas do rock, do pop e da música folclórica brasileira. A originalidade dos seus shows tem relação com a ópera europeia do século XIX a partir da
A originalidade das composições autorais do grupo O Teatro Mágico, que mescla referências estéticas do rock, do pop e da música folclórica brasileira, é semelhante à integração das diversas linguagens artísticas da ópera europeia do século XIX.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
A trajetória de Liesel Meminger é contada por uma narradora mórbida, surpreendentemente simpática. Ao perceber que a pequena ladra de livros lhe escapa, a Morte afeiçoa-se à menina e rastreia suas pegadas de 1939 a 1943. Traços de uma sobrevivente: a mãe comunista, perseguida pelo nazismo, envia Liesel e o irmão para o subúrbio pobre de uma cidade alemã, onde um casal se dispõe a adotá-los por dinheiro. O garoto morre no trajeto e é enterrado por um coveiro que deixa cair um livro na neve. É o primeiro de uma série que a menina vai surrupiar ao longo dos anos. O único vínculo com a família é esta obra, que ela ainda não sabe ler.
A vida ao redor é a pseudorrealidade criada em torno do culto a Hitler na Segunda Guerra. Ela assiste à eufórica celebração do aniversário do Führer pela vizinhança. A Morte, perplexa diante da violência humana, dá um tom leve e divertido à narrativa deste duro confronto entre a infância perdida e a crueldade do mundo adulto, um sucesso absoluto – e raro – de crítica e público.
Disponível em: www.odevoradordelivros.com. Acesso em: 24 jun. 2014.
Os gêneros textuais podem ser caracterizados, dentre outros fatores, por seus objetivos. Esse fragmento é um(a)
O texto da questão apresenta um comentário crítico a – cerca do romance A menina que roubava livros, do autor australiano Markus Zusak. No comentário há, além da descrição de alguns traços do enredo, o caráter opinativo sobre algumas passagens. Essa construção textual (descrição de enredo e comentário crítico) é típica do gênero textual resenha.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
Encontrando base em argumentos supostamente científicos, o mito do sexo frágil contribuiu historicamente para controlar as práticas corporais desempenhadas pelas mulheres. Na história do Brasil, exatamente na transição entre os séculos XIX e XX, destacam-se os esforços para impedir a participação da mulher no campo das práticas esportivas. As desconfianças em relação à presença da mulher no esporte estiveram culturalmente associadas ao medo de masculinizar o corpo feminino pelo esforço físico intenso. Em relação ao futebol feminino, o mito do sexo frágil atuou como obstáculo ao consolidar a crença de que o esforço físico seria inapropriado para proteger a feminilidade da mulher “normal”. Tal mito sustentou um forte movimento contrário à aceitação do futebol como prática esportiva feminina. Leis e propagandas buscaram desacreditar o futebol, considerando-o inadequado à delicadeza. Na verdade, as mulheres eram consideradas incapazes de se adequar às múltiplas dificuldades do “esporte-rei”.
TEIXEIRA, F. L. S.; CAMINHA, I. O. Preconceito no futebol feminino: uma revisão sistemática. Movimento, Porto Alegre, n. 1, 2013 (adaptado).
No contexto apresentado, a relação entre a prática do futebol e as mulheres é caracterizada por um
O texto de Teixeira e Caminha apresenta um contexto que relaciona mulher e futebol em nossa sociedade em determinado momento da história do Brasil (a transição entre os séculos XIX e XX). Nessa conjuntura, construiu-se uma imagem desse esporte como prática que demanda “esforço físico intenso”, o que seria o oposto à imagem tida até então como pertencente à mulher: a de fragilidade. Assim, o período enfocado pelo artigo teria sido marcado por argumentos biológicos usados “para justificar desigualdades históricas”. Deve-se acrescentar que além do argumento biológico, há o apelo para a preservação do futebol como jogo masculino, como se nota na passagem: “Tal mito sustentou um forte movimento contrário à aceitação do futebol como prática esportiva feminina.”
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
Farejador de Plágio: uma ferramenta contra a cópia ilegal
No mundo acadêmico ou nos veículos de comunicação, as cópias ilegais podem surgir de diversas maneiras, sendo integrais, parciais ou paráfrases. Para ajudar a combater esse crime, o professor Maximiliano Zambo natto Pezzin, engenheiro de computação, desenvolveu junto com os seus alunos o programa Farejador de Plágio.
O programa é capaz de detectar: trechos contínuos e fragmentados, frases soltas, partes de textos reorganizadas, frases reescritas, mudanças na ordem dos períodos e erros fonéticos e sintáticos.
Mas como o programa realmente funciona? Considerando o texto como uma sequência de palavras, a ferramenta analisa e busca trecho por trecho nos sites de busca, assim como um professor desconfiado de um aluno faria. A diferença é que o programa permite que se pesquise em vários buscadores, gerando assim muito mais resultados.
Disponível em: http://reporterunesp.jor.br.Acesso em: 19 mar. 2018.
Segundo o texto, a ferramenta Farejador de Plágio alcança seu objetivo por meio da
O texto define a ferramenta “Farejador de Plágio” como capaz de detectar trechos contínuos e fragmentados. Isso só é possível pelo fato de o texto ser considerado como uma “sequência de palavras”, que permite a “comparação de padrões estruturais”.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
TEXTO I
BRACCO, A; LOSCHI, M. Quando rotas se tornam arte. Retratos: a revista do IBGE. Rio de Janeiro, n. 3, set. 2017 (adaptado).
TEXTO II
Stephen Lund, artista canadense, morador em Victoria, capital da Colúmbia Britânica (Canadá), transformou-se em fenômeno mundial produzindo obras de arte virtuais pedalando sua bike. Seguindo rotas traçadas com o auxilio de um dispositivo de GPS, ele calcula ter percorrido mais de 10 mil quilômetros.
Disponível em: www.booooooom.com. Acesso em: 9 dez. 2017 (adaptado)
Os textos destacam a inovação artística proposta por Stephen Lund a partir do(a)
A inovação artística está no fato de Stephen Lund empregar um “dispositivo de GPS” para compor desenhos a partir de percursos urbanos.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
TEXTO I
Disponível em http://revistaiiqb.usac.edu.gt. Acesso em: 25 abr. 2018 (adaptado).
TEXTO II
Imaginemos um cidadão, residente na periferia de um grande centro urbano, que diariamente acorda às 5h para trabalhar, enfrenta em média 2 horas de transporte público, em geral lotado, para chegar às 8h ao trabalho. Termina o expediente às 17h e chega em casa às 19h para, aí sim, cuidar dos afazeres domésticos, dos filhos etc. Como dizer a essa pessoa que ela deve praticar exercícios, pois é importante para sua saúde? Como ela irá entender a mensagem da importância do exercício físico? A probabilidade de essa pessoa praticar exercícios regularmente é significativamente menor que a de pessoas da classe média/alta que vivem outra realidade. Nesse caso, a abordagem individual do problema tende a fazer com que a pessoa se sinta impotente em não conseguir praticar exercícios e, consequentemente, culpada pelo fato de ser ou estar sedentária.
FERREIRA, M. S. Aptidão física e saúde na educação física escolar: ampliando o enfoque. RBCE, n. 2, jan. 2001 (adaptado).
O segundo texto, que propõe uma reflexão sobre o primeiro acerca do impacto de mudanças no estilo de vida na saúde, apresenta uma visão
O texto I apresenta uma propaganda que responsabiliza o indivíduo pela falta de tempo para a prática de exercícios e, consequentemente, pelo surgimento de doenças. Já o texto II apresenta uma visão ampliada do tema abordado, pois analisa o cotidiano atribulado de um indivíduo que deve dar conta de seus afazeres profissionais e domésticos, portanto, sem tempo hábil para dedicar à prática esportiva.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
No tradicional concurso de miss, as candidatas apresentaram dados de feminicídio, abuso sexual e estupro no país. No lugar das medidas de altura, peso, busto, cintura e quadril, dados da violência contra as mulheres no Peru. Foi assim que as 23 candidatas ao Miss Peru 2017 protestaram contra os altos índices de feminicídio e abuso sexual no país no tradicional desfile em trajes de banho. O tom político, porém, marcou a atração desde o começo: logo no início, quando as peruanas se apresentaram, uma a uma, denunciaram os abusos morais e físicos, a exploração sexual, o assédio, entre outros crimes contra as mulheres.
Disponível em: www.cartacapital.com.br. Acesso em: 29 nov. 2017.
Quanto à materialização da linguagem, a apresentação de dados relativos à violência contra a mulher
O fato de as candidatas a messes se manifestarem sobre a violência contra a mulher cria um diferencial em relação ao discurso tradicional utilizado nesse tipo de concurso.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
Dia 20/10
É preciso não beber mais. Não é preciso sentir vontade de beber e não beber: é preciso não sentir vontade de beber. É preciso não dar de comer aos urubus. É preciso fechar para balanço e reabrir. É preciso não dar de comer aos urubus. Nem esperanças aos urubus. É preciso sacudir a poeira. É preciso poder beber sem se oferecer em holocausto. É preciso. É preciso não morrer por enquanto. É preciso sobreviver para verificar. Não pensar mais na solidão de Rogério, e deixá-lo. É preciso não dar de comer aos urubus. É preciso enquanto é tempo não morrer na via pública.
TORQUATO NETO. In: MENDONÇA, J. (Org.) Poesia (im)popular brasileira. São Bernardo do Campo: Lamparina Luminosa, 2012.
O processo de construção do texto formata uma mensagem por ele dimensionada, uma vez que
O emprego da reiterada expressão anafórica “é preciso” revela a permanência dos sentimentos reprimidos pelo narrador.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
TEXTO I
GRIMBERG, N. Estrutura vertical dupla. Disponível em: www.normagrimberg.com.br. Acesso em: 13 dez. 2017.
TEXTO II
Urna cerimonial marajoara. Cerâmica. 1400 a 400 a.C. 81 cm. Museu Nacional do Rio de Janeiro. Disponível em: www.museunacional.ufrj.br. Acesso em: 11 dez. 2017.
As duas imagens são produções que têm a cerâmica como matéria-prima. A obra Estrutura vertical dupla se distingue da urna funerária marajoara ao
No texto II, há a reprodução de um vaso utilizado em cerimoniais na cultura marajoara; no texto I, há a reprodução de um objeto conceitual, sem função utilitária. Assim, a obra “Estrutura vertical dupla” materializa apenas a técnica.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
o que será que ela quer
essa mulher de vermelho
alguma coisa ela quer
pra ter posto esse vestido
não pode ser apenas
uma escolha casual
podia ser um amarelo
verde ou talvez azul
mas ela escolheu vermelho
ela sabe o que ela quer
e ela escolheu vestido
e ela é uma mulher
então com base nesses fatos
eu já posso afirmar
que conheço o seu desejo
caro watson, elementar:
o que ela quer sou euzinho
sou euzinho o que ela quer
só pode ser euzinho
o que mais podia ser
FREITAS, A. Um útero é do tamanho de um punho. São Paulo: Cosac Naify, 2013.
No processo de elaboração do poema, a autora confere ao eu lírico uma identidade que aqui representa a
O eu lírico masculino questiona e interpreta as escolhas de vestuário da mulher, acreditando conhecer a “psicologia feminina”.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a imagem de um vidro mole que fazia uma volta atrás de casa. Passou um homem e disse: Essa volta que o rio faz por trás de sua casa se chama enseada. Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrás de casa. Era uma enseada. Acho que o nome empobreceu a imagem.
BARROS. M. O livro das ignorãças. Rio de Janeiro; Best Seller. 2008.
O sujeito poético questiona o uso do vocábulo “enseada” porque a
O sujeito poético questiona o esvaziamento poético de “cobra de vidro”, quando um homem nomeia o acidente geográfico de “enseada”.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
ABL lança novo concurso cultural: “Conte o conto sem aumentar um ponto”
Em razão da grande repercussão do concurso de Microcontos do Twitter da ABL, o Abletras, a Academia Brasileira de Letras lançou no dia do seu aniversário de 113 anos um novo concurso cultural intitulado “Conte o conto sem aumentar um ponto”, baseado na obra A cartomante, de Machado de Assis. “Conte o conto sem aumentar um ponto" tem como objetivo dar um final distinto do original ao conto A cartomante, de Machado de Assis, utilizando-se o mesmo número de caracteres – ou inferior – que Machado concluiu seu trabalho, ou seja, 1 778 caracteres. Vale ressaltar que, para participar do concurso, o concorrente deverá ser seguidor do Twitter da ABL, o Abletras.
Disponível em: www.academia.org.br. Acesso em: 18 out. 2015 (adaptado).
O Twitter é reconhecido por promover o compartilhamento de textos. Nessa notícia, essa rede social foi utilizada como veículo/suporte para um concurso literário por causa do(a)
O Twitter estabelece um limite de 280 caracteres por postagem. Como o concurso literário limita o número de toques para as publicações, justifica-se a escolha dessa rede social para a divulgação do concurso.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
Disponível em: www.sul21.com.br. Acesso em: 1 dez. 2017 (adaptado).
Nesse texto, busca-se convencer o leitor a mudar seu comportamento por meio da associação de verbos no modo imperativo à
O verbo no imperativo (“denuncie”) convoca o público-alvo da mensagem a tomar uma atitude diferente da assumida pelas mulheres da imagem. Assim, com relação ao crime de assédio, deve-se substituir a omissão (“não vejo”, “não falo”, “não ouço”) pela denúncia.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
A Casa de Vidro
Houve protestos.
Deram uma bola a cada criança e tempo para brincar.
Elas aprenderam malabarismos incríveis e algumas viajavam pelo mundo exibindo sua alegre habilidade. (O problema é que muitos, a maioria, não tinham jeito e eram feios de noite, assustadores. Seria melhor prender essa gente – havia quem dissesse.)
Houve protestos.
Aumentaram o preço da carne, liberaram os preços dos cereais e abriram crédito a juros baixos para o agricultor. O dinheiro que sobrasse, bem, digamos, ora o dinheiro que sobrasse! Houve protestos.
Diminuíram os salários (infelizmente aumentou o número de assaltos) porque precisamos combater a inflação e, como se sabe, quando os salários estão acima do índice de produtividade eles se tornam altamente inflacionários, de modo que.
Houve protestos.
Proibiram os protestos.
E no lugar dos protestos nasceu o ódio. Então surgiu a Casa de Vidro, para acabar com aquele ódio.
ÂNGELO, I. A casa de vidro. São Paulo: Círculo do Livro. 1985.
Publicado em 1979, o texto compartilha com outras obras da literatura brasileira escritas no período as marcas do contexto em que foi produzido, como a
O texto vai ao encontro de outras obras da literatura brasileira que empregam também metáforas e ironias para retratar a repressão política e cultural desse período da história do Brasil.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
“Acuenda o Pajubá”: conheça o “dialeto secreto” utilizado por gays e travestis
Com origem no iorubá, linguagem foi adotada por travestis e ganhou a comunidade
“Nhaí, amapô! Não faça a loka e pague meu acué, deixe de equê se não eu puxo teu picumã!” Entendeu as palavras dessa frase? Se sim, é porque você manja alguma coisa de pajubá, o “dialeto secreto” dos gays e travestis.
Adepto do uso das expressões, mesmo nos ambientes mais formais, um advogado afirma: “É claro que eu não vou falar durante uma audiência ou numa reunião, mas na firma, com meus colegas de trabalho, eu falo de ‘acué’ o tempo inteiro”, brinca. “A gente tem que ter cuidado de falar outras palavras porque hoje o pessoal já entende, né? Tá na internet, tem até dicionário ...”, comenta.
O dicionário a que ele se refere é o Aurélia, a dicionária da língua afiada, lançado no ano de 2006 e escrito pelo jornalista Angelo Vip e por Fred Libi. Na obra, há mais de 1 300 verbetes revelando o significado das palavras do pajubá.
Não se sabe ao certo quando essa linguagem surgiu, mas sabe-se que há claramente uma relação entre o pajubá e a cultura africana, numa costura iniciada ainda na época do Brasil colonial.
Disponível em: www.midiamax.com.br. Acesso em: 4 abr. 2017 (adaptado).
Da perspectiva do usuário, o pajubá ganha status de dialeto, caracterizando-se como elemento de patrimônio linguístico, especialmente por
O pajubá ou bajubá, falar típico de gays e travestis, que pertence ao patrimônio linguístico nacional, pode ser qualificado como dialeto por ser caracterizado “por objetos formais de registro”, o código escrito.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
Certa vez minha mãe surrou-me com uma corda nodosa que me pintou as costas de manchas sangrentas. Moído, virando a cabeça com dificuldade, eu distinguia nas costelas grandes lanhos vermelhos. Deitaram-me, enrolaram-me em panos molhados com água de sal – e houve uma discussão na família. Minha avó, que nos visitava, condenou o procedimento da filha e esta afligiu-se. Irritada, ferira-me à toa, sem querer. Não guardei ódio a minha mãe: o culpado era o nó.
RAMOS, G. Infância. Rio de Janeiro: Record, 1998.
Num texto narrativo, a sequência dos fatos contribui para a progressão temática. No fragmento, esse processo é indicado pela
O trecho narrativo contém verbos em vários tempos de passado (“surrou”, “distinguia”, “deitaram-me”, “ferira-me”) , marcando a sequência de ações do enredo.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
Disponível em: www.facebook.com/omeusegredinho. Acesso em: 9 dez. 2017. (Adaptado).
Essa imagem ilustra a reação dos celíacos (pessoas sensíveis ao glúten) ao ler rótulos de alimentos sem glúten. Essas reações indicam que, em geral, os rótulos desses produtos
Como os rótulos de produtos que não contêm glúten apresentam falta de uniformidade no conjunto de informações importantes para seu público, as reações desses consumidores são diversificadas, conforme evidenciam as diferentes expressões dos “emoti = cons”.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
Quebranto
às vezes sou o policial que me suspeito
me peço documentos
e mesmo de posse deles
me prendo e me dou porrada
às vezes sou o porteiro
não me deixando entrar em mim mesmo
a não ser
pela porta de serviço
[ ... ]
às vezes faço questão de não me ver
e entupido com a visão deles
sinto-me a miséria concebida como um eterno
começo
fecho-me o cerco
sendo o gesto que me nego
a pinga que me bebo e me embebedo
o dedo que me aponto
e denuncio
o ponto em que me entrego.
às vezes!...
CUTI. Negroesia. Belo Horizonte: Mazza. 2007 (fragmento).
Na literatura de temática negra produzida no Brasil, é recorrente a presença de elementos que traduzem experiências históricas de preconceito e violência. No poema, essa vivência revela que o eu lírico
Por meio da anáfora “às vezes”, o eu poemático, um afrodescendente, enumera atitudes que seleciona no decorrer do tempo e que pertencem ao discurso do seu opressor: suspeitar do negro e agir com violência contra ele, interditar-lhe o acesso a caminhos de entrada social e tratá-lo como invisível.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
TEXTO I
ALMEIDA, H. Dentro de mim, 2000. Fotografia p/b. 132cm x 88 cm. Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.
TEXTO II
A body art põe o corpo tão em evidência e o submete a experimentações tão variadas, que sua influência estende-se aos dias de hoje. Se na arte atual as possibilidades de investigação do corpo parecem ilimitadas – pode-se escolher entre representar, apresentar, ou ainda apenas evocar o corpo – isso ocorre graças ao legado dos artistas pioneiros.
SILVA. P. R. Corpo na arte, body art, body modification; fronteiras. II. Enconlro de História da Arte: IFCH-Unicamp. 2006 (adaptado).
Nos textos, a concepção de body art está relacionada à intenção de
Tanto a fotografia quanto o texto técnico destacam a ideia essencial da body art, já perceptível na tradução dessa denominação: arte corporal ou arte com corpo. Trata-se da produção estética que usa o corpo como suporte de expressão de uma representação, apresentação ou simplesmente evocação.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
Deficientes visuais já podem ir a algumas salas de cinema e teatros para curtir, em maior intensidade, as atrações em cartaz. Quem ajuda na tarefa é o aplicativo Whatscine, recém-chegado ao Brasil e disponível para os sistemas operacionais iOS (Apple) ou Android (Google). Ao ser conectado à rede wi-fi de cinemas e teatros, o app sincroniza um áudio que descreve o que ocorre na tela ou no palco com o espetáculo em andamento: o usuário, então, pode ouvir a narração em seu celular. O programa foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade Carlos III, em Madri. “Na Espanha, 200 salas de cinema já oferecem o recurso e filmes de grandes estúdios já são exibidos com o recurso do Whatscine!”, diz o brasileiro Luis Mauch, que trouxe a tecnologia para o país. “No Brasil, já fechamos parceria com a São Paulo Companhia de Dança para adaptar os espetáculos deles! Isso já é um avanço. Concorda?”
Disponível em: http://veja.abril.com.br. Acesso em 25 jun. 2014 (adaptado).
Por ser múltipla e apresentar peculiaridades de acordo com a intenção do emissor, a linguagem apresenta funções diferentes. Nesse fragmento, predomina a função referencial da linguagem, porque há a presença de elementos que
O texto tem como objetivo essencial descrever o aplicativo Whatscine, dando destaque para seu histórico e funcionamento. Para tanto, utiliza a denotação e a função referencial da linguagem.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
BRANCO. A. Disponível em: www.oesquema.com.br. Acesso em: 30 jun. 2015 (adaptado).
A internet proporcionou o surgimento de novos paradigmas sociais e impulsionou a modificação de outros já estabelecidos nas esferas da comunicação e da informação. A principal consequência criticada na tirinha sobre esse processo é a
O primeiro quadro da tirinha apresenta uma personagem que confessa ter-se tornado “profissional”, o que permite inferir que está recebendo renumeração como blogueira. No segundo, há a declaração do valor pela produção de “meme” e “textão”. No terceiro, ocorre um diálogo sobre o preço exorbitante por uma “opinião na internet”. Assim, configura-se uma sátira à “comercialização de pontos de vista”.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
Vó Clarissa deixou cair os talheres no prato, fazendo a porcelana estalar. Joaquim, meu primo, continuava com o queixo suspenso, batendo com o garfo nos lábios, esperando a resposta. Beatriz ecoou a palavra como pergunta, “o que é lésbica?”. Eu fiquei muda. Joaquim sabia sobre mim e me entregaria para a vó e, mais tarde, para toda a família. Senti um calor letal subir pelo meu pescoço e me doer atrás das orelhas. Previ a cena: vó, a senhora é lésbica? Porque a Joana é. A vergonha estava na minha cara e me denunciava antes mesmo da delação. Apertei os olhos e contrai o peito, esperando o tiro. [ ... ]
[ ... ] Pensei na naturalidade com que Tais e eu levávamos a nossa história. Pensei na minha insegurança de contar isso à minha família, pensei em todos os colegas e professores que já sabiam, fechei os olhos e vi a boca da minha vó e a boca da tia Carolina se tocando, apesar de todos os impedimentos. Eu quis saber mais, eu quis saber tudo, mas não consegui perguntar.
POLESSO. N. B. Vó. a senhora é lésbica? Amora. Porto Alegre: Não Editora. 2015 (fragmento).
A situação narrada revela uma tensão fundamentada na perspectiva do
A menção, em um refeição familiar, ao lesbianismo produz uma tensão que deixa a narradoraprotagonista muda, com “um calor letal [a] subir pelo [seu] pescoço e [lhe] doer atrás das orelhas”. Infere-se que ela teme que alguém a entregue, a denuncie. Essa insegurança é fruto do “medo” instaurado pelas ameaças de punição”, situação típica de quem é exposto como homossexual, o que valida a c. Os impedimentos no que tange à discussão sobre a homossexualidade no contexto familiar (Eu quis saber mais, eu quis saber tudo, mas não consegui perguntar) permitem que se possa considerar como correta a alternativa b: silêncio em nome do equilíbrio familiar.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
Somente uns tufos secos de capim empedrados crescem na silenciosa baixada que se perde de vista. Somente uma árvore, grande e esgalhada mas com pouquíssimas folhas, abre-se em farrapos de sombra. Único ser nas cercanias, a mulher é magra, ossuda, seu rosto está lanhado de vento. Não se vê o cabelo, coberto por um pano desidratado. Mas seus olhos, a boca, a pele – tudo é de uma aridez sufocante.
Ela está de pé. A seu lado está uma pedra. O sol explode. Ela estava de pé no fim do mundo. Como se andasse para aquela baixada largando para trás suas noções de si mesma. Não tem retratos na memória. Desapossada e despojada, não se abate em autoacusações e remorsos. Vive.
Sua sombra somente é que lhe faz companhia. Sua sombra, que se derrama em traços grossos na areia, é que adoça como um gesto a claridade esquelética. A mulher esvaziada emudece, se dessangra, se cristaliza, se mineraliza. Já é quase de pedra como a pedra a seu lado. Mas os traços de sua sombra caminham e, tornando-se mais longos e finos, esticam-se para os farrapos de sombra da ossatura da árvore, com os quais se enlaçam.
FRÓES. L. Vertigens: obra reunida. Rio de Janeiro: Rocco. 1998.
Na apresentação da paisagem e da personagem, o narrador estabelece uma correlação de sentidos em que esses elementos se entrelaçam. Nesse processo, a condição humana configura-se
O enunciado descreve uma mulher magra, ossuda, “desapossada e despojada” que está “largando para trás sua noções de si mesma”. Essa figura é colocada em uma paisagem de “tufos secos de capim empedrados” e com uma única árvore “esgalhada mas com pouquíssimas folhas”. Constroíse, assim, uma fusão, uma amálgama entre personagem e ambiente, pois ambos são marcados por desertificação, ausência, carência e solidão.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
Aconteceu mais de uma vez: ele me abandonou. Como todos os outros. O quinto. A gente já estava junto há mais de um ano. Parecia que dessa vez seria para sempre. Mas não: ele desapareceu de repente, sem deixar rastro. Quando me dei conta, fiquei horas ligando sem parar – mas só chamava, chamava, e ninguém atendia. E então fiz o que precisava ser feito: bloqueei a linha.
A verdade é que nenhum telefone celular me suporta. Já tentei de todas as marcas e operadoras, apenas para descobrir que eles são todos iguais: na primeira oportunidade, dão no pé. Esse último aproveitou que eu estava distraído e não desceu do táxi junto comigo. Ou será que ele já tinha pulado do meu bolso no momento em que eu embarcava no táxi? Tomara que sim. Depois de fazer o que me fez, quero mais é que ele tenha ido parar na sarjeta. [ ... ] Se ainda fossem embora do jeito que chegaram, tudo bem. [ ... ] Mas já sei o que vou fazer. No caminho da loja de celulares, vou passar numa papelaria. Pensando bem, nenhuma das minhas agendinhas de papel jamais me abandonou.
FREIRE. R. Começar de novo. O Estado de S. Paulo, 24 nov. 2006.
Nesse fragmento, a fim de atrair a atenção do leitor e de estabelecer um fio condutor de sentido, o autor utiliza-se de
A fim de chamar a atenção do leitor, o primeiro parágrafo do texto contém lugares-comuns dos discurso de ruptura amorosa (“Ele me abandonou”, “como todos os outros”, “Ele desapareceu de repente”) para relatar a troca constante que o autor faz dos aparelhos celulares.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
Enquanto isso, nos bastidores do universo Você planeja passar um longo tempo em outro país, trabalhando e estudando, mas o universo está preparando a chegada de um amor daqueles de tirar o chão, um amor que fará você jogar fora seu atlas e criar raízes no quintal como se fosse uma figueira.
Você treina para a maratona mais desafiadora de todas, mas não chegará com as duas pernas intactas na hora da largada, e a primeira perplexidade será esta: a experiência da frustração.
O universo nunca entrega o que promete. Aliás, ele nunca prometeu nada, você é que escuta vozes.
No dia em que você pensa que não tem nada a dizer para o analista, faz a revelação mais bombástica dos seus dois anos de terapia. O resultado de um exame de rotina coloca sua rotina de cabeça para baixo. Você não imaginava que iriam tantos amigos à sua festa, e tampouco imaginou que justo sua grande paixão não iria. Quando achou que estava bela, não arrasou corações. Quando saiu sem maquiagem e com uma camiseta puída, chamou a atenção. E assim seguem os dias à prova de planejamento e contrariando nossas vontades, pois, por mais que tenhamos ensaiado nossa fala e estejamos preparados para a melhor cena, nos bastidores do universo alguém troca nosso papel de última hora, tornando surpreendente a nossa vida.
MEDEIROS. M. O Globo. 21 jun. 2015.
Entre as estratégias argumentativas utilizadas para sustentar a tese apresentada nesse fragmento, destaca-se a recorrência de
A estratégia argumentativa usada na construção desse texto é a da contraposição entre a expectativa da realização do desejo e a sua não concretização.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
“A Declaração Universal dos Direitos Humanos está completando 70 anos em tempos de desafios crescentes, quando o ódio, a discriminação e a violência permanecem vivos”, disse a diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Audrey Azoulay.
“Ao final da Segunda Guerra Mundial, a humanidade inteira resolveu promover a dignidade humana em todos os lugares e para sempre. Nesse espírito, as Nações Unidas adotaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos como um padrão comum de conquistas para todos os povos e todas as nações”, disse Audrey.
“Centenas de milhões de mulheres e homens são destituídos e privados de condições básicas de subsistência e de oportunidades. Movimentos populacionais forçados geram violações aos direitos em uma escala sem precedentes. A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável promete não deixar ninguém para trás – e os direitos humanos devem ser o alicerce para todo o progresso.”
Segundo ela, esse processo precisa começar o quanto antes nas carteiras das escolas. Diante disso, a Unesco lidera a educação em direitos humanos para assegurar que todas as meninas e meninos saibam seus direitos e os direitos dos outros.
Disponível em: https:/Inacoesunidas.org. Acesso em: 3 abro 2018 (adaptado).
Defendendo a ideia de que “os direitos humanos devem ser o alicerce para todo o progresso”, a diretora-geral da Unesco aponta, como estratégia para atingir esse fim,
Para a diretora-geral da Unesco, a educação em direitos humanos é um “processo que precisa começar o quanto antes nas carteiras das escolas”.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
Disponível em: www.facebook.comlminsaude. Acesso em: 14 fev. 2018 (adaptado).
A utilização de determinadas variedades linguísticas em campanhas educativas tem a função de atingir o público-alvo de forma mais direta e eficaz. No caso desse texto, identifica-se essa estratégia pelo(a)
O emprego de expressões como “já está acostumado” e “está difícil” exemplifica marcas linguísticas da oralidade.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
– Famigerado? [ ... ]
– Famigerado é “inóxio”, é “célebre”, “notório”, “notável”
... – Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é desaforado? É caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?
– Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos ...
– Pois ... e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em dia de semana?
– Famigerado? Bem. É: “importante”, que merece louvor, respeito ...
ROSA, G. Famigerado. In: Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
Nesse texto, a associação de vocábulos da língua portuguesa a determinados dias da semana remete ao
Na metáfora “linguagem de em dia de semana”, houve analogia entre a roupa comum que se usa no dia a dia e a linguagem simples, sem rebuscamento.
(ENEM 2018 - 1ª Aplicação).
Na sociologia e na literatura, o brasileiro foi por vezes tratado como cordial e hospitaleiro, mas não é isso o que acontece nas redes sociais: a democracia racial apregoada por Gilberto Freyre passa ao largo do que acontece diariamente nas comunidades virtuais do país. Levantamento inédito realizado pelo projeto Comunica que Muda [ ... ] mostra em números a intolerância do internauta tupiniquim. Entre abril e junho, um algoritmo vasculhou plataformas [ ... ] atrás de mensagens e textos sobre temas sensíveis, como racismo, posicionamento político e homofobia. Foram identificadas 393 284 menções, sendo 84% delas com abordagem negativa, de exposição do preconceito e da discriminação.
Disponível em: https://oglobo.globo.com. Acesso em: 6 dez. 2017 (adaptado).
Ao abordar a postura do internauta brasileiro mapeada por meio de uma pesquisa em plataformas virtuais, o texto
O texto apresenta, em seu início, a visão consagrada do brasileiro, na literatura e na sociologia, como “cordial e hospitaleiro”, para rebatê-la a partir de dados pesquisados, entre abril e junho de 2017, segundo os quais, de 393.284 mensagens e textos sobre posicionamento político, homoafetividade e questões étnicas, 84% continham abordagens preconceituosas e discriminatórias. Logo, a análise feita sobre esses temas “refuta” as ideias preconcebidas sobre o brasileiro como homem “cordial e hospitaleiro”.
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