D10: PORTUGUÊS - 9° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL
D10: Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa.
01
(A.D.A - seduc-GO).
Leia o texto a seguir e responda as questões 1 e 2.
Felicidade clandestina
Clarice Lispector
[...]
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
[...]
Disponível: http://pagina-de-vida.blogspot.com /2007/05/felicidade-clandestina-clarice.html. Acesso em 14 nov. 2018.
Quem narra esse texto é
03
(A.D.A - seduc-GO).
Leia o texto a seguir e responda.
Furto de flor
Carlos Drummond de Andrade
Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava, e eu furtei a flor.
Trouxe-a para casa e coloquei-a no copo com água. Logo senti que ela não estava feliz. O copo destina-se a beber, e flor não é para ser bebida.
Passei-a para o vaso, e notei que ela me agradecia, revelando melhor sua delicada composição. Quantas novidades há numa flor, se a contemplarmos bem.
Sendo autor do furto, eu assumira a obrigação de conservá-la. Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia. Temi por sua vida. Não adiantava restituí-la no jardim. Nem apelar para o médico de flores. Eu a furtara, eu a via morrer.
Já murcha, e com a cor particular da morte, peguei-a docemente e fui depositá-la no jardim onde desabrochara. O porteiro estava atento e repreendeu-me.
— Que ideia a sua, vir jogar lixo de sua casa neste jardim!
Disponível em: https://www.contioutra.com/furto-de-flor-uma- cronica-de-carlos-drummond-de-andrade/. Acesso em: 04 jan. 2019.
O que deu origem à história foi
04
(A.D.A - seduc-GO).
Leia o texto e, a seguir, responda.
Coração conta diferente
7 X 5 = 45 ...
O Renato começou a rir e cochichou comigo:
— Essa menina é meio lelé.
Eu não ri nem falei nada. Mas uma coisa, lá dentro da minha cabeça, me disse que 7 X 5 = 35. Como foi a Adriana que tinha escrito no quadro, eu não percebi o erro. Aquele 4 que ela desenhou tão certinho no lugar do 3 era tão bonito! Até os números da Adriana são lindos!
— Tá errado, tia! Tá errado! — gritou, toda esganiçada, a Carina.
A tia então mandou a Adriana sentar. [...]
Ela ficou com a cabeça abaixada um tempão. [...]
Aí, arranquei a beiradinha da última página do meu caderno e escrevi:
Não liga, Adriana. O 45 que você escreve é tão lindo quanto o seu cabelo.
[...] Fiz bem depressa uma bolinha com o bilhete dobrado, mirei joguei. Ela caiu no colo da Adriana.
ALBERGARIA, Lino de. Coração conta diferente. 3.ed. São Paulo: Scipione, 1994. Fragmento.
Quem conta essa história é
05
(SPAECE).
Leia o texto a seguir e responda.
A OUTRA NOITE
Outro dia fui a São Paulo e resolvi voltar à noite, uma noite de vento sul e chuva, tanto lá como aqui. Quando vinha para casa de táxi, encontrei um amigo e o trouxe até Copacabana; e contei a ele que lá em cima, além das nuvens, estava um luar lindo, de lua cheia; e que as nuvens feias que cobriam a cidade eram, vistas de cima, enluaradas, colchões de sonho, alvas, uma paisagem irreal.
Depois que o meu amigo desceu do carro, o chofer aproveitou o sinal fechado para voltar-se para mim:
— O senhor vai desculpar, eu estava aqui a ouvir sua conversa. Mas, tem mesmo luar lá em cima?
Confirmei: sim, acima da nossa noite preta e enlamaçada e torpe havia uma outra - pura, perfeita e linda.
— Mas, que coisa...
Ele chegou a pôr a cabeça fora do carro para olhar o céu fechado de chuva. Depois continuou guiando mais lentamente. Não sei se sonhava em ser aviador ou pensava em outra coisa.
— Ora, sim senhor...
E, quando saltei e paguei a corrida, ele me disse um "boa noite" e um "muito obrigado ao senhor" tão sinceros, tão veementes, como se eu lhe tivesse feito um presente de rei.
Rubem Braga
O fato que desencadeou a história foi
06
(SAEP).
Leia o texto e responda.
FUGINDO DO HOSPITAL
O visitante vai passando pelo corredor do hospital, quando vê o amigo saindo disparado, cheio de tubos, da sala de cirurgia:
— Aonde é que você vai, rapaz?!
— Tá louco, bicho, vou cair fora!
— Mas, qual é, rapaz?! Uma simples operação de apendicite! Você tira isso de letra.
E o paciente:
— Era o que a enfermeira estava dizendo lá dentro: “Uma operaçãozinha de nada, rapaz! Coragem! Você tira isso de letra! Vai fundo, homem!”
— Então, por que você está fugindo?
— Porque ela estava dizendo isso era pro médico que ia me operar!
(Ziraldo. As melhores anedotas do mundo. Rio de Janeiro; Globo, 1988, p. 62.)
O lugar onde a história se passa
07
(SAETHE).
Leia o texto abaixo.
O tempo não apaga
Há alguns anos, quase todo dia de manhã, quando eu abria o portão para ir ao trabalho, via um garotinho sorridente que passava por mim, a caminho da escola, e eu correspondia o sorriso sem palavras. Certo dia muito frio, percebi que ele estava de tênis, mas sem meias, apenas com uma calça curta e uma blusinha de uniforme. Perguntei se poderia lhe dar algumas roupas dos meus filhos, e ele, todo feliz, disse que precisava apenas de meias, mas que seu irmão precisava do restante. Combinei que no dia seguinte, quando ele passasse, lhe entregaria o material. Juntei todas as meias que pude, de todos os tamanhos e cores e dito e feito: com um “muito obrigado, senhora”, ele se foi. De vez em quando, ainda o via, mas com o passar do tempo não o vi mais... Até que certo dia a campainha soou e fui atender. Era um rapaz alto, mas aquele sorriso era o mesmo, me agradecendo mais uma vez pelas “meias” e, com um cesto de verduras verdinhas, me fez chorar... Ele me contou que as meias duraram muitos anos e em momento algum esqueceu o meu gesto. Às vezes, uma atitude tão simples faz toda a diferença na vida de alguém.
Seleções. Jan. 2011. p. 60.
O fato que gerou essa história foi a
08
(Prova Brasil).
Leia o texto abaixo:
O que dizem as camisetas
(Fragmento)
Apareceram tantas camisetas com inscrições, que a gente estranha ao deparar com uma que não tem nada escrito.
— Que é que ele está anunciando? — indagou o cabo eleitoral, apreensivo. — Será que faz propaganda do voto em branco? Devia ser proibido!
— O cidadão é livre de usar a camiseta que quiser — ponderou um senhor moderado.
— Em tempo de eleição, nunca — retrucou o outro. — Ou o cidadão manifesta sua preferência política ou é um sabotador do processo de abertura democrática.
— O voto é secreto.
— É secreto, mas a camiseta não é, muito pelo contrário. Ainda há gente neste país que não assume a sua responsabilidade cívica, se esconde feito avestruz e...
— Ah, pelo que vejo o amigo não aprova as pessoas que gostam de usar uma camiseta limpinha, sem inscrição, na cor natural em que saiu da fábrica.
(...).
DRUMMOND, Carlos. Moça deitada na grama. Rio de Janeiro: Record, 1987, p. 38-40.
O conflito em torno do qual se desenvolveu a narrativa foi o fato de:
09
(SARESP).
Leia o texto abaixo.
AS ESTRELAS
Numa das noites daquele mês de abril estava Dona Benta na sua cadeira de balanço, lá na varanda, com olhos no céu cheio de estrelas. A criançada também se reunira ali.
Súbito, Narizinho, que estava em outro degrau da escada fazendo tricô, deu um berro.
— Vovó, Emília está botando a língua para mim!
Mas Dona Benta não ouviu. Não tirava os olhos das estrelas. Estranhando aquilo, os meninos foram se aproximando. E ficaram também a olhar para o céu, em procura do que estava prendendo a atenção da boa velha.
— Que é vovó, que a senhora está vendo lá em cima? Eu não estou enxergando nada. - disse Pedrinho. Dona Benta não pôde deixar de rir-se. Pôs nele os óculos e puxou-o para o seu colo e falou:
— Não está vendo nada, meu filho? Então olha para o céu estrelado e não vê nada?
— Só vejo estrelinhas. - murmurou o menino.
— E acha pouco, meu filho?
Fonte: LOBATO, Monteiro. As estrelas. In: ______ . Viagem ao céu. 19. ed. São Paulo: Brasiliense, 1971. Fragmento.
A história contada se passa
10
(SADEAM).
Leia o texto abaixo.
O LOBO DESATENTO
Certa noite, um lobo andava pela floresta em busca de comida. E já estava empenhado nessa tarefa havia um bom tempo, sem qualquer resultado prático, quando sentiu no aro cheiro de carneiros. “Até que enfim”, foi o pensamento que lhe veio à cabeça de imediato, e então, imaginando o que de bom poderia encontrar mais adiante para aplacar a fome que sentia, ele caminhou rapidamente na direção que o seu faro indicava.
Logo à frente, as árvores davam lugar a uma grande área coberta de relva, e era nesse pedaço de chão que os carneiros descansavam protegidos por um cão. O lobo não se preocupou com isso. O que fez foi sair andando passo a passo, o mais devagar que podia, procurando se aproximar do ponto que ficava mais distante do vigia, onde algumas das possíveis presas dormiam sossegadas.
E já estava quase lá, quando uma de suas patas traseiras descuidou-se um momento e pisou em um pedaço de tábua já meio apodrecido. Esta rangeu sob o peso do animal, e o barulho que fez soou tão alto em meio ao silêncio da noite que acordou o cão de guarda, fazendo-o sair na mesma hora em perseguição ao lobo desastrado. Que por sua vez, coitado, não teve outra coisa a fazer senão fugir em desabalada carreira, esfomeado e sem alimento.
Moral da história: Quem não presta atenção no que faz, algum dia vai acabar se metendo em apuros.
Disponível em: http://WWW.fernandodannemann. recantodasletras.com.br. Acesso em: 5 abr. 2010.
Nesse texto, o que deu origem aos fatos narrados foi o
11
(SAERS).
Leia o texto abaixo.
O príncipe sapo
Uma feiticeira muito má transformou um belo príncipe num sapo, só o beijo de uma princesa desmancharia o feitiço.
Um dia, uma linda princesa chegou perto da lagoa em que o príncipe morava. Cheio de esperança de ficar livre do feitiço, ele lhe pediu um beijo. Como ela era muito boa, venceu o nojo e, sem saber de nada, atendeu ao pedido do sapo: deu-lhe um beijo.
Imediatamente o sapo voltou a ser príncipe, casou-se com a princesa e foram felizes para sempre.
SEIESZKA, Jon. O patinho realmente feio e outras histórias malucas. São Paulo: Companhia das letrinhas, 1997, [s. p].
O que deu origem aos fatos narrados nesse texto?
12
(SAERJ).
Leia o texto abaixo.
Irmão de enxurrada
Fico lembrando dele esperneando no berço. Ele era uma coisica ainda mais estranha do que é hoje. Não, muito mais estranha: hoje ele é gente, fala, acha coisas sobre mim, sobre os outros irmãos, sobre a dona da padaria. Antes ele era... um...um montinho que se mexia também estranhamente. Eu ficava horas olhando para ele.
[...] Teve um tempo em que ele engatinhava. Rodava pela casa toda, gugu pra cá, dadá pra lá, passando debaixo dos móveis, debaixo das pernas da gente — um saco!
[...] E um dia que ele engoliu a cabeça de um bonequinho do “Forte Apache”? Ou foi o rabinho de um cavalo? Não lembro exatamente o que foi que ele engoliu, mas lembro do problemão que foi. [...] Minha mãe veio correndo, porque eu gritei do meu quarto...
CISALPINO, Murilo. In: Ricardo Ramos. Irmão mais velho, irmão mais novo. São Paulo: Atual,1992. p. 64-71.
Nesse texto, o narrador é