D10: PORTUGUÊS - 3º Série - Ensino Médio
D10: Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa.
01
(SEDUC-GO).
Leia o texto e, a seguir, responda.
Choro
Rubem Braga
Eram todos negros: uma viola, um clarinete, um pandeiro e uma cabaça. Juntaram-se na varandinha de uma casa abandonada e ali ficaram chorando valsas, repinicando sambas. E a gente veio se ajuntando, calada, ouvindo. Alguém mandou no botequim da esquina trazer cerveja e cachaça. E em pé na calçada, ou sentados no chão da varanda, ou nos canteiros do jardinzinho, todos ficamos em silêncio ouvindo os negros.
Os que ouviam não batiam palmas nem pediam música nenhuma; ficavam simplesmente bebendo em silêncio aquele choro, o floreio do clarinete, o repinicado vivo e triste da viola.
Só essa música que nos arrasta e prende, nos dá alegria e tristeza, nos leva a outras noites de emoções — e grátis. Ainda há boas coisas grátis, nesta cidade de coisas tão caras e de tanta falta de coisas. Grátis — um favor dos negros.
Alma grátis, poesia grátis, duas horas de felicidade grátis — sim, só da gente do povo podemos esperar uma coisa assim nesta cidade de ganância e de injustiça. Só o pobre tem tanta riqueza para dar de graça.
Texto adaptado de BRAGA, Rubem. Um pé de milho. 5 ed., Rio de Janeiro: Record, 1993, pp. 104-105.
Observando as marcas lingüísticas que evidenciam o locutor do texto, podemos afirmar que se trata de
02
(SEDUC-GO).
Leia o texto e, a seguir, responda.
A Terra dos Meninos Pelados
“Havia um menino diferente dos outros meninos. Tinha o olho direito preto, o esquerdo azul e a cabeça pelada. Os vizinhos mangavam dele e gritavam: — Ô pelado! Tanto gritaram que ele se acostumou, achou o apelido certo, deu para se assinar a carvão nas paredes: Dr. Raimundo Pelado. Era de bom gênio e não se zangava; mas os garotos dos arredores fugiam ao vê-lo, escondiam-se por detrás das árvores da rua, mudavam a voz e perguntavam que fim tinham levado os cabelos dele.
Não tendo com quem entender-se, Raimundo Pelado falava só, e os outros pensavam que ele estava malucando. Estava nada! Conversava sozinho e desenhava na calçada coisas maravilhosas do país de Tatipirun, onde não há cabelos e as pessoas têm um olho preto e outro azul”.
RAMOS, Graciliano. Alexandre e outros heróis. Rio de Janeiro: Record, 1987.
O conflito gerador do enredo se deu pelo fato de
03
(SEDUC-GO).
Leia o texto e, a seguir, responda.
Continho
Paulo Mendes Campos
Era uma vez um menino triste, magro e barrigudinho, do sertão de Pernambuco. Na soalheira danada de meio-dia, ele estava sentado na poeira do caminho imaginando bobagem, quando passou um gordo vigário a cavalo:
— Você aí, menino, para onde vai essa estrada?
— Ela não vai não: nós é que vamos nela.
— Engraçadinho duma figa! Como você se chama?
— Eu não me chamo não: os outros é que me chamam de Zé.
Disponível em: www.scribd.com/doc/57047146/Continho. Acesso em19/02/2013.
Pode-se dizer que a exposição dos fatos é
04
(SAEPE).
Leia o texto abaixo e responda.
Nasrudin e o ovo
Certa manhã, Nasrudin — o grande místico sufi que sempre fingia ser louco — colocou um ovo embrulhado em um lenço, foi para o meio da praça de sua cidade e chamou aqueles que estavam ali.
— Hoje teremos um importante concurso! — disse. Quem descobrir o que está embrulhado neste lenço, eu dou de presente o ovo que está dentro!
As pessoas se olharam, intrigadas, e responderam:
— Como podemos saber? Ninguém aqui é capaz de fazer adivinhações!
Nasrudin insistiu:
— O que está neste lenço tem um centro que é amarelo como uma gema, cercado de um líquido da cor da clara, que por sua vez está contido dentro de uma casca que quebra facilmente. É um símbolo de fertilidade e nos lembra dos pássaros que voam para seus ninhos. Então, quem pode me dizer o que está escondido?
Todos os habitantes pensavam que Nasrudin tinha em suas mãos um ovo, mas a resposta era tão óbvia, que ninguém resolveu passar vergonha diante dos outros. E se não fosse um ovo, mas algo muito importante, produto da fértil imaginação mística dos sufis?
Um centro amarelo podia significar algo do sol, o líquido ao redor talvez fosse um preparado alquímico. Não, aquele louco estava querendo fazer alguém de ridículo.
Nasrudin perguntou mais duas vezes, e ninguém se arriscou a dizer algo impróprio.
Então ele abriu o lenço e mostrou a todos o ovo.
— Todos vocês sabiam a resposta — afirmou. E ninguém ousou traduzi-la em palavras.
Moral da história: É assim a vida daqueles que não têm coragem de arriscar: as soluções nos são dadas generosamente por Deus, mas estas pessoas sempre procuram explicações mais complicadas e terminam não fazendo nada. Pare de tentar complicar a vida! Isso é o que temos feito sempre... A vida é feita de extrema simplicidade. Só um caminho a ser seguido: o seu! Uma pergunta a ser respondida: “o que você realmente quer?” E uma atitude a ser tomada: entregar-se! Pare de lutar com a vida, porque quanto mais você luta, mais você dói!
Revista Geração saúde, Ano 4, Nº 35, p. 34.
Nesse texto, a característica do personagem principal é a
05
(SAEPE).
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O torcedor
No jogo de decisão do campeonato, Eváglio torceu pelo Atlético Mineiro, não porque fosse atleticano ou mineiro, mas porque receava o carnaval nas ruas se o Flamengo vencesse. Visitava um amigo em bairro distante, nenhum dos dois tem carro, e ele previa que a volta seria problema.
O Flamengo triunfou, e Eváglio deixou de ser atleticano para detestar todos os clubes de futebol, que perturbam a vida urbana com suas vitórias. Saindo em busca de táxi inexistente, acabou se metendo num ônibus em que não cabia mais ninguém, e havia duas bandeiras rubro-negras para cada passageiro. E não eram bandeiras pequenas nem torcedores exaustos: estes pareciam terem guardado a capacidade de grito para depois da vitória.
Eváglio sentiu-se dentro do Maracanã, até mesmo dentro da bola chutada por 44 pés. A bola era ele, embora ninguém reparasse naquela esfera humana que ansiava por tornar a ser gente a caminho de casa.
Lembrando-se de que torcera pelo vencido, teve medo, para não dizer terror. Se lessem em seu íntimo o segredo, estava perdido. Mas todos cantavam, sambavam com alegria tão pura que ele próprio começou a sentir um pouco de Flamengo dentro de si. Era o canto?
Eram braços e pernas falando além da boca? A emanação de entusiasmo o contagiava e transformava. Marcou com a cabeça o acompanhamento da música. Abriu os lábios, simulando cantar. Cantou. [...] Estava batizado, crismado e ungido: uma vez Flamengo, sempre Flamengo.
O pessoal desceu na Gávea, empurrando Eváglio para descer também e continuar a festa, mas Eváglio mora em Ipanema, e já com o pé no estribo se lembrou. Loucura continuar Flamengo [...] Segurou firme na porta, gritou: “Eu volto, gente! Vou só trocar de roupa” e, não se sabe como, chegou intacto ao lar, já sem compromisso clubista.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Disponível em: http://flamengoeternamente.blogspot.com/ 2007/04/o-torcedor-carlos-drummond-de-andrade. html>. Acesso em: 13 jan. 2011. Fragmento.
O clímax desse texto encontra-se no trecho:
06
(SAEPE).
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Folhas secas
Eu estava dando uma aula de Matemática e todos os alunos acompanhavam atentamente.
Todos?
Quase. Carolina equilibrava o apontador na ponta da régua, Lucas recolhia as borrachas dos vizinhos e construía um prédio, Renata conferia as canetas e os lápis do seu estojo vermelhíssimo e Hélder olhava para o pátio.
O pátio? O que acontecia no pátio?
Após o recreio, dona Natália varria calmamente as folhas secas e amontoava e guardava tudo dentro de um enorme saco plástico azul. Terminando o varre-varre, dona Natália amarrou a boca do saco plástico e estacionou aquele bafuá de folhas secas perto do portão.
Hélder observava atentamente. E eu observava a observação de Hélder — sem descuidar da minha aula de Matemática. De repente, Hélder foi arregalando os olhos e franzindo a testa.
Qual o motivo do espanto?
Hélder percebeu alguma coisa no meio das folhas movendo-se desesperadamente, com aflição, sufoco, falta de ar. Hélder buscava interpretações para a cena, analisava possibilidades, mas o perfil do passarinho já se delineava na transparência azul do plástico.
Um pássaro novo caiu do ninho e foi confundido com as folhas secas e foi varrido e agora lutava pela liberdade.
— Ele tá preso!
O grito de Hélder interrompeu o final da multiplicação de 15 por 127. Todos os alunos olharam para o pátio. E todos nós concordamos, sem palavras: o bico do passarinho tentava romper aquela estranha pele azul. Hélder saiu da sala e nós fomos atrás. E antes que eu pudesse pronunciar a primeira sílaba da palavra “calma”, o saco plástico simplesmente explodiu, as folhas voaram e as crianças pularam de alegria.
Alguns alunos dizem que havia dois passarinhos presos. Outros viram três passarinhos voando felizes e agradecidos. Lucas diz que era um beija-flor. Renata insiste que era uma cigarra. Eu, sinceramente, só vi folhas secas voando.
Para concluir esta inesquecível aula de Matemática, pegamos vassouras, pás e sacos plásticos e fomos varrer novamente o pátio.
MARQUES, Francisco. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/ fundamental-1/folhas-secas-634210.shtml>. Acesso em: 14 fev. 2012.
Nesse texto, o elemento gerador da narrativa é o fato de
07
(SAEPE).
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A hora dos ruminantes
A noite chegava cedo em Manarairema. Mal o sol se afundava atrás da serra — quase que de repente, como caindo — já era hora de acender candeeiros, de recolher bezerros, de se enrolar em xales. A friagem até então continuada nos remansos do rio, em fundos de grotas, em porões escuros, ia se espalhando, entrando nas casas, cachorro de nariz suado farejando.
Manarairema, ao cair da noite — anúncios, prenúncios, bulícios. Trazidos pelo vento que bate pique nas esquinas, aqueles infalíveis latidos, choros de criança com dor de ouvido, com medo do escuro. Palpites de sapos em conferência, grilos afiando ferros, morcegos costurando a esmo, estendendo panos pretos, enfeitando o largo para alguma festa soturna.
Manarairema vai sofrer a noite. [...]
Não se podia mais sair de casa, os bois atravancavam as portas e não davam passagem, não podiam; não tinham para onde se mexer. Quando se abria uma janela não se conseguia mais fechá-la, não havia força que empurrasse para trás aquela massa elástica de chifres, cabeças e pescoços que vinha preencher o espaço.
Frequentemente surgiam brigas, e seus estremecimentos repercutiam longe, derrubavam paredes distantes e causavam novas brigas, até que os empurrões, chifradas, ancadas forçassem uma arrumação temporária. O boi que perdesse o equilíbrio e ajoelhasse nesses embates não conseguia mais se levantar, os outros o pisavam até matar, um de menos que fosse já folgava um pouco o aperto — mas só enquanto os empurrões vindos de longe não restabelecessem a angústia. [...]
VEIGA, José J. Disponível em: http://www.portugues.com.br/literatura>. Acesso em: 5 mar. 2012. Fragmento.
Uma característica da tipologia narrativa que predomina nesse texto é:
08
(SAEPE).
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O cego, Renoir, Van Gogh e o resto
Vistos de costas, pareciam apenas dois amigos conversando diante do quadro Rosa e azul, de Renoir, comentando o quadro. Porém, quem prestasse atenção nos dois perceberia, talvez estranhasse, que um deles, o de elegantes óculos de sol, parecia um pouco desinteressado, apesar de todo o empenho do outro, traduzido em gestos e eloquência quase murmurada. [...]
O que falava segurava às vezes o antebraço do de óculos com uma intimidade solícita e confiante. [...] Aproximei-me do quadro, fingindo olhar de perto a técnica do pintor, voltei-me e percebi: o de óculos escuros era cego. [...]
Algo extraordinário acontecia ali, que eu só compreendia na superfície: um homem descrevendo para um amigo cego um quadro de Renoir. Por que tantos detalhes? [...]
— Azul com o quê? Fale mais desse azul — pediu o cego, como se precisasse completar alguma coisa dentro de si.
— É um azul claro, muito claro, um azul que tem movimento e transparência em muita luz, um azul tremulando, azul como o de uma piscina muito limpa eriçada pelo vento, uma piscina em que o sol se reflete e que tremula em mil pequenos reflexos [...] Lembra-se daquela piscina em Amalfi?
— Lembro... lembro... — e sacudia a cabeça ...
Afastei-me, olhei-os de longe. Roupas coloridas, esportivas. [...] O guarda treinado para vigiar pessoas estava ao meu lado e contou, aos arrancos:
— Eles vêm muito aqui. Só conversam sobre um quadro ou dois de cada vez. É que o cego se cansa. Era fotógrafo, ficou assim de desastre.
ÂNGELO, Ivan. O comprador de aventuras. In Para gostar de ler: v.: 28. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2007. Fragmento.
No primeiro parágrafo desse texto, o elemento da narrativa em evidência é o
09
(BPW).
Leia o texto abaixo e responda.
A raposa e as uvas
Certa raposa esfaimada encontrou uma parreira carregadinha de lindos cachos maduros, coisas de fazer vir água à boca. Mas tão altos que nem pulando.
O matreiro bicho torceu o focinho:
— Estão verdes — murmurou — Uvas verdes, só para cachorros.
E foi-se.
Nisto deu um vento e uma folha caiu.
A raposa, ouvindo o barulhinho, voltou depressa e pôs-se a farejar...
Quem desdenha quer comprar.
LOBATO, Monteiro. Fábulas. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1973. p. 47.
O problema que se apresenta para a personagem é
10
(SAEMS).
Leia o texto abaixo.
Os viajantes e o urso
Um dia, dois viajantes deram de cara com um urso. O primeiro se salvou escalando uma árvore, mas o outro, sabendo que não ia conseguir vencer sozinho o urso, se jogou no chão e fingiu-se de morto. O urso se aproximou dele e começou a cheirar sua orelha, mas, convencido de que estava morto, foi embora. O amigo começou a descer da árvore e perguntou:
— O que o urso estava cochichando em seu ouvido?
— Ora, ele só me disse para pensar duas vezes antes de sair por aí viajando com gente que abandona os amigos na hora do perigo.
Moral da história: A desgraça põe à prova a sinceridade da amizade.
ESOPO. Fábulas completas. São Paulo: Moderna,1994.
Esse texto se organiza, principalmente, a partir
11
(SAEMS).
Leia o texto abaixo.
O burro selvagem e o burro doméstico
Um burro selvagem, como visse um burro doméstico tomando sol, aproximou-se e o felicitou por sua constituição física e pelo proveito que tirava da forragem. Mas depois, ao vê-lo carregando um fardo, tendo atrás o asneiro que lhe batia com um cacete, disse: “Ah! Não mais te felicito, pois vejo que tens coisas em abundância mas não sem grandes males!”.
Assim, não é invejável o ganho acompanhado de perigos e sofrimentos.
ESOPO. Fábulas completas. São Paulo: Moderna,1994.
O texto se organiza, principalmente,
12
(SAEPE).
Leia o texto abaixo e responda.
Grande sertão: Veredas
Até que, um dia, eu estava repousando, no claro estar, em rede de algodão rendada. Alegria me espertou, um pressentimento. Quando eu olhei, vinha vindo uma moça. Otacília.
Meu coração rebateu, estava dizendo que o velho era sempre novo. Afirmo ao senhor, minha Otacília ainda se orçava mais linda, me saudou com o salvável carinho, adianto de amor. Ela tinha vindo com a mãe. E a mãe dela, os parentes, todos se praziam, me davam Otacília, como minha pretendida.
Mas eu disse tudo. Declarei muito verdadeiro e grande o amor que eu tinha a ela; mas que, por destino anterior, outro amor, necessário também, fazia pouco eu tinha perdido. O que confessei. E eu, para nojo e emenda, carecia de uns tempos. Otacília me entendeu, aprovou o que eu quisesse. Uns dias ela ainda passou lá, me pagando companhia, formosamente.
Ela tinha certeza de que eu ia retornar à Santa Catarina, renovar; e trajar terno de sarjão, flor no peito, sendo o da festa de casamento. Eu fui, com o coração feliz, por Otacília eu estava apaixonado. Conforme me casei, não podia ter feito coisa melhor, como até hoje ela é minha muito companheira — o senhor conhece, o senhor sabe. [...]
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro. José Olympio, 1978. Fragmento.
O acontecimento que dá origem aos fatos narrados nesse texto é