Quiz 22: PORTUGUÊS - 3ª Série - Ensino Médio
01
(SEDUC-GO).
Leia o texto e, a seguir, responda.
O poeta come amendoim
Mário de Andrade
Noites pesadas de cheiros e calores amontoadas...
Foi o Sol que por todo o sítio imenso do Brasil Andou marcando de moreno os brasileiros.
Estou pensando nos tempos de antes de eu nascer...
A noite era pra descansar. As gargalhadas brancas dos mulatos...
Silêncio! O Imperador medita os seus versinhos.
Os Caramurus conspiram na sombra das mangueiras ovais.
Só o murmurejo dos cre’m-deus-padre irmanava os homens de meu país...
Duma feita os canhamboras perceberam que não tinha mais escravos,
Por causa disso muita virgem-do-rosário se perdeu...
Porém o desastre verdadeiro foi embonecar esta República temporã.
A gente inda não sabia se governar...
Progredir, progredimos um tiquinho
Que o progresso também é uma fatalidade...
Será o que Nosso Senhor quiser!...
Estou com desejos de desastres...
Com desejos do Amazonas e dos ventos muriçocas
Se encostando na canjerana dos batentes...
Tenho desejos de violas e solidões sem sentido
Tenho desejos de gemer e de morrer.
Brasil...
Mastigado na gostosura quente de amendoim...
Falado numa língua curumim
De palavras incertas num remelexo melado melancólico...
Saem lentas frescas trituradas pelos meus dentes bons...
Molham meus beiços que dão beijos alastrados
E depois remurmuram sem malícia as rezas bem nascidas...
Brasil amado não porque seja minha pátria,
Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der...
Brasil que eu amo porque é o ritmo do meu braço aventuroso,
O gosto dos meus descansos,
O balanço das minhas cantigas amores e danças.
Brasil que eu sou porque é a minha expressão muito engraçada,
Porque é o meu sentimento pachorrento,
Porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de dormir.
Disponível em: http://www.nilc.icmc.usp.br/nilc/ literatura/opoetacomeamendoim.htm> Acesso em: 04 nov. 2015.
De acordo com o poema foi um verdadeiro desastre embonecar a República porque o povo brasileiro
02
(SEDUC-GO).
Leia o texto e, a seguir, responda.
Mulheres
Graciliano Ramos
As senhoras não votavam. Agora votam. As matutas foram à eleição de 3 de maio e comportaram-se perfeitamente. Assinaram as folhas com desembaraço, entraram no gabinete, meteram a chapa no envelope e, em conformidade com os conselhos da Liga de Ação Católica, sufragaram os candidatos do Partido Nacional, do Partido Democrata e do Partido Socialista.
Os matutos em geral não se comportaram bem. Sentaram-se tremendo e estiveram dez minutos sujando os dedos com tinta e procurando tirar um fiapo inexistente no bico da pena. Fizeram borrões no papel, foram à saleta secreta, votaram e deitaram o título de eleitor dentro da urna.
Vão agora pensar que esses pobres homens continuarão a atrapalhar a política e a administração do Estado. Não continuam. Os municípios serão dirigidos por mulheres. Dirigidos claramente. Porque em alguns, conforme ficou dito, já elas dominavam à socapa no tempo em que só os homens podiam votar. Imaginem a que nos reduziremos para o futuro.
Disponível em: http://www.pragmatismopolitico.com.br /2013/03/graciliano-ramosmulheres.html>. Acesso em: 11 jun. 2018 (adaptado).
No trecho “[...] foram à saleta secreta, votaram e deitaram o título de eleitor dentro da urna.”, o verbo “deitaram” significa
03
(SEDUC-GO).
Leia o texto e, a seguir, responda.
Um pé de milho
Os americanos, através do radar, entraram em contato com a Lua, o que não deixa de ser emocionante. Mas o fato mais importante da semana aconteceu com o meu pé de milho. Aconteceu que, no meu quintal, em um monte de terra trazida pelo jardineiro, nasceu alguma coisa que podia ser um pé de capim — mas descobri que era um pé de milho. Transplantei-o para o exíguo canteiro da casa. Secaram as pequenas folhas; pensei que fosse morrer. Mas ele reagiu. Quando estava do tamanho de um palmo, veio um amigo e declarou desdenhosamente que aquilo era capim. Quando estava com dois palmos, veio outro amigo e afirmou que era cana.
Sou um ignorante, um pobre homem da cidade. Mas eu tinha razão. Ele cresceu, está com dois metros, lança suas folhas além do muro e é um esplêndido pé de milho. Já viu o leitor um pé de milho? Eu nunca tinha visto. Tinha visto centenas de milharais — mas é diferente.
Um pé de milho sozinho, em um canteiro espremido, junto do portão, numa esquina de rua - não é um número numa lavoura, é um ser vivo e independente. Suas raízes roxas se agarram no chão e suas folhas longas e verdes nunca estão imóveis.
Detesto comparações surrealistas — mas na lógica de seu crescimento, tal como vi numa noite de luar, o pé de milho parecia um cavalo empinado, de crinas ao vento e em outra madrugada, parecia um galo cantando.
Anteontem aconteceu o que era inevitável, mas que nos encantou como se fosse inesperado: meu pé de milho pendoou. Há muitas flores lindas no mundo, e a flor de milho não será a mais linda. Mas aquele pendão firme, vertical, beijado pelo vento do mar, veio enriquecer nosso canteirinho vulgar com uma força e uma alegria que me fazem bem. É alguma coisa que se afirma com ímpeto e certeza. Meu pé de milho é um belo gesto da terra. Eu não sou mais um medíocre homem que vive atrás de uma chata máquina de escrever: sou um rico lavrador da rua Júlio de Castilhos.
BRAGA, Rubem. Um pé de milho. In: 200 (Duzentas) crônicas escolhidas. 22 ed. Rio de Janeiro: Record, 2004, p. 77.
O trecho “Eu não sou mais um medíocre homem que vive atrás de uma chata máquina de escrever: sou um rico lavrador da rua Júlio de Castilhos.” sugere que o autor/narrador
04
(BPW).
Leia o texto abaixo.
NOBREZA POPULAR
Uma das muitas cenas memoráveis do imperdível filme “brasileirinho” do diretor finlandês Mika Kaurismaki é a do Guinga contando como nasceu a música “Senhorinha”, dedicada à sua filha. Depois Zezé Gonzaga canta a música. Quem não se emocionar deve procurar um médico urgentemente porque pode estar morto. “Senhorinha” tem letra de Paulo César Pinheiro e é uma das coisas mais bonitas já feitas no Brasil — e não estou falando só de música. O filme todo é uma exaltação do talento brasileiro, da nossa vocação para a beleza tirada do simples ou , no caso do chorinho, do complicado, mas com um virtuosismo natural que parece fácil. Recomendo não só a quem gosta de música, mas a quem anda contagiado por sorumbatismo de origem psicossomática ou paulista e achando que o Brasil vai acabar na semana que vem. Não é a música que vai nos salvar. Mas passei o filme vendo e ouvindo o Guinga, o Trio Madeira Brasil, o Paulo Moura, o Yamandú, o Silvério Pontes, a Elza Soares, a Teresa Cristina, a Zezé Gonzaga (e até Adenilde Fonseca!) e pensando: é essa a nossa elite. Essa é a nossa nobreza popular, a que representa o melhor que nós somos. O oposto do patriciado que confunde qualquer ameaça ao seu domínio com o fim do mundo. Uma das alegrias que nós dá o filme é constatar que o chorinho, longe de estar acabando, está se revitalizando. Tem garotada aprendendo choro como nunca antes. Substitua-se choro pelo Brasil que não tem nojo de si mesmo e pronto: a esperança vem por aí.
Parafraseando o Chico Buarque: Contra desânimo, desilusão, dispnéia, o trombone do Zé da Veia. O Globo, 02/09/2007
Qual é o tema desse texto?
05
(3ª P.D – SEDUC-GO).
Leia o texto abaixo e responda.
O AVENTUREIRO ULISSES
(Ulisses Serapião Rodrigues)
Ainda tinha duzentos réis. E como eram sua única fortuna meteu a mão no bolso e segurou a moeda. Ficou com ela na mão fechada.
Nesse instante estava na Avenida Celso Garcia. E sentia no peito todo o frio da manhã.
Duzentão. Quer dizer: dois sorvetes de casquinha. Pouco. Ah! muito sofre quem padece. Muito sofre quem padece? É uma canção de Sorocaba. Não. Não é. Então que é? Mui-to so-fre quem pa-de-ce. Alguém dizia isto sempre. Etelvina? Seu Cosme? Com certeza Etelvina que vivia amando toda a gente. Até ele. Sujeitinha impossível. Só vendo o jeito de olhar dela.
Bobagens. O melhor é ir andando. Foi. Pé no chão é bom só na roça. Na cidade é uma porcaria. Toda a gente estranha. É verdade. Agora é que ele reparava direito: ninguém andava descalço. Sentiu um mal-estar horrível. As mãos a gente ainda escondia nos bolsos. Mas os pés? Cousa horrorosa.
Desafogou a cintura. Puxou as calças para baixo. Encolheu os artelhos. Deu dez passos assim. Pipocas. Não dava jeito mesmo. Pipocas. A gente da cidade que vá bugiar no inferno. Ajustou a cintura. Levantou as calças acima dos tornozelos. Acintosamente. E muito vermelho foi jogando os pés na calçada. Andando duro como se estivesse calçado.
MACHADO, Antônio de A. O aventureiro Ulisses. Contos reunidos. São Paulo: Ática, 2002. p.122.
O enredo se desenvolve a partir da
06
(SPAECE-CE).
Leia o texto abaixo e, a seguir, responda.
Modernidade e desordem
Sessenta anos de história política do Brasil são contados a partir do acervo de obras do MAM“Brasília é artificial. Tão artificial como devia ser o mundo quando foi criado.” Assim escreveu Clarice Lispector em 1962, dois anos depois da inauguração da terceira capital do Brasil, símbolo máximo do modernismo brasileiro. O que para Clarice é artificialidade, para o arquiteto Oscar Niemeyer é “concisão e pureza”. No Brasil dos anos 50, essas eram as duas grandes metas da modernidade, as formas estéticas que melhor exprimiam a vontade construtiva que tomou conta do Brasil nos anos de Juscelino Kubitschek – anos de moeda forte e de industrialização promissora. Hoje, [...] a exposição “Ordem e progresso: Vontade Construtiva na Arte Brasileira” revisa as mudanças nos projetos de Brasil desde o pós-guerra [...].
O ponto de partida é o rigor geométrico modernista, aparente nas criações de artistas concretos como Anatol Wladyslaw, Lygia Pape, Lothar Charoux e Ivan Serpa.
ALZUGARAY, Paula. Artes Visuais. IstoÉ. 21 jan. 2011, ed. 2150. Disponível em: http://www.istoe.com.br/reportagens /120827_MODERNIDADE+ E+DESORDEM>. Acesso em: 29 maio 2012. Fragmento.
A informação principal desse texto refere-se
07
(SEDUC-GO).
Leia o texto e, a seguir, responda.
Pequenos tormentos da vida
De cada lado da sala de aula, pelas janelas altas, o azul convida os meninos, as nuvens desenrolam-se, lentas, como quem vai inventando preguiçosamente uma história sem fim... Sem fim é a aula: e nada acontece, nada... Bocejos e moscas. Se ao menos, pensa Margarida, se ao menos um avião entrasse por uma janela e saísse pela outra!
(Mario Quintana. Sapato florido, 1994, p. 115)
O texto de Mário Quintana tem a finalidade de
08
(SAEPE).
Leia os textos abaixo.
O guarani
A cúpula da palmeira, em que se achavam Peri e Cecília, parecia uma ilha de verdura banhando-se nas águas da corrente; as palmas que se abriam formavam no centro um berço mimoso, onde os dois amigos, estreitando-se, pediam ao céu para ambos uma só morte, pois uma só era a sua vida. [...]
— [...] Peri vencerá a água, como venceu a todos os teus inimigos. [...]
Falou com um tom solene:
“Foi longe, bem longe dos tempos de agora. As águas caíram, e começaram a cobrir toda a terra. Os homens subiram ao alto dos montes; um só ficou na várzea com sua esposa.
Era Tamandaré; forte entre os fortes; sabia mais que todos. [...]
Tamandaré tomou sua mulher nos braços e subiu com ela ao olho da palmeira; aí esperou que a água viesse e passasse; a palmeira dava frutos que os alimentavam.
A água veio, subiu e cresceu; o sol mergulhou e surgiu uma, duas e três vezes. A terra desapareceu; a árvore desapareceu; a montanha desapareceu.
A água tocou o céu; e o Senhor mandou então que parasse. O sol olhando só viu céu e água, e entre a água e o céu, a palmeira que boiava levando Tamandaré e sua companheira. [...]
Quando veio o dia, Tamandaré viu que a palmeira estava plantada no meio da várzea; e ouviu a avezinha do céu, o guanumbi, que batia as asas. [...]”
Cecília o ouvia sorrindo, e bebia uma a uma as suas palavras, como se fossem as partículas do ar que respirava; parecia-lhe que a alma de seu amigo, [...] desprendia do seu corpo, [...] e vinha embeber-se no seu coração, que se abria para recebê-la.
A água subindo molhou as pontas das largas folhas da palmeira, e uma gota, resvalando pelo leque, foi embeber-se na alva cambraia das roupas de Cecília. [...]
Peri, alucinado, suspendeu-se aos cipós que se entrelaçavam pelos ramos das árvores já cobertas de água, e com esforço desesperado, cingindo o tronco da palmeira nos seus braços hirtos, abalou-o até as raízes. [...]
Ambos, árvore e homem, embalançaram-se no seio das águas: a haste oscilou; as raízes desprenderam-se da terra já minada profundamente pela torrente.
A cúpula da palmeira, embalançando-se graciosamente, resvalou pela flor da água como um ninho de garças ou alguma ilha flutuante, formada pelas vegetações aquáticas.
Peri estava de novo sentado junto de sua senhora quase inanimada e, tomando-braços, disse-lhe com um acento de ventura suprema:
— Tu viverás!... [...]
A palmeira arrastada pela torrente impetuosa fugia...
E sumiu-se no horizonte.
ALENCAR, José de. O guarani. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr. gov.br/arquivos/File/2010/literatura/ obras_completas_literatura_brasileira _e_portuguesa/JOSE_ALENCAR/GUARANI /P4_C11.HTML>. Acesso em: 5 jun. 2012. Fragmento.
Há uma opinião expressa no trecho:
10
(SEDUC-GO).
Leia o texto e, a seguir, responda.
Estudo realizado este ano com 600 pessoas de gênero, idade, instrução, renda e região diferentes espelha o seguinte: 81% dos entrevistados responderam que podem viver com civilidade na cidade, outros 15% disseram que não é possível e 5% não responderam. "Quem ganha 10 salários mínimos percebe a civilidade de um jeito diferente de quem recebe até um salário mínimo mensalmente", observa o professor do Departamento de Ciência Política da UFPE, Marcos Lima. "É interessante que a maioria acredite na civilidade", diz. Civilidade, para a maioria dos entrevistados, é viver com mais segurança. "Combater a violência e a criminalidade" foi a resposta de 33% deles. É também ter oportunidade de trabalho (26%).
Melhorar a educação, saúde e saneamento são pleitos de outros 33%. "Incivilidade e crime estão atrelados, porque o criminoso geralmente não sabe o que é civilidade, tolerância e direitos básicos, pois muitas vezes nasceu à margem disso", justifica o coordenador de pós-graduação em Geografia da UFPE e organizador do estudo Geografias da Violência e do Medo, Alcindo de Sá. Na opinião de 49% dos entrevistados, a educação doméstica é que conduz à civilidade. Já a falta dela, o desemprego e a ausência de solidariedade são os principais estímulos para as incivilidades, como depredar o patrimônio público, degradar o meio ambiente e desrespeitar idosos e pessoas com deficiência. "A questão da falta de ajuda ao próximo tem a ver com o isolamento das pessoas, com a individualização", associa o pesquisador em Geografia Urbana do Departamento de Ciências Geográficas da UFPE, Jan Bittoun. Famílias e escola se comprometem nesse mesmo tabuleiro da civilidade. "Temos que formar cidadãos preocupados com causas sociais e não somente com interesses particulares. Crianças e jovens precisam aprender a gostar do lugar onde vivem e se sentirem responsáveis por ele", afirma a diretora pedagógica do Colégio Apoio. "Mas a escola não ensina tudo. A civilidade começa em família".
DIÁRIO DE PERNAMBUCO. O grande lance da civilidade. Recife, 10 mar. 2010.
Na frase “É interessante que a maioria acredite na civilidade”, (1° parágrafo), o uso das aspas indica
11
(SEDUC-GO).
Leia o texto e, a seguir, responda.
Descobrimento
Mário de Andrade
Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.
Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus!
muito longe de mim
Na escuridão ativa da noite que caiu
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.
Esse homem é brasileiro que nem eu.
Disponível em: https://escolaeducacao.com.br/ melhores-poemas-de-mario-de-andrade/>. Acesso em: 09 nov. 2018.
Com a expressão escuridão ativa, o eu lírico enfatiza a/o
12
(SAEPI).
Leia os textos abaixo.
Texto I
O Lutador
Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, tão fortes
como o javali.
Não me julgo louco.
Se o fosse, teria
poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio,
apareço e tento
apanhar algumas
para meu sustento
num dia de vida.
Deixam-se enlaçar,
tontas à carícia
e súbito fogem
e não há ameaça
e nem há sevícia
que as traga de novo
ao centro da praça.
ANDRADE, Carlos Drummond de. O Lutador. Disponível em: http://letras.terra.com.br/ carlos-drummond-deandrade/818514/>. Acesso em: 26 nov. 2009. Fragmento.
Texto II
Carta
Meu caro poeta,
Por um lado foi bom que me tivesses pedido resposta urgente, senão eu jamais escreveria sobre o assunto desta, pois não possuo o dom discursivo e expositivo, vindo daí a dificuldade que sempre tive de escrever em prosa. A prosa não tem margens, nunca se sabe quando, como e onde parar. O poema, não; descreve uma parábola trancada pelo próprio impulso (ritmo); é que nem um grito. Todo poema é, para mim, uma interjeição ampliada; algo de instintivo, carregado de emoção.
[...] Como vês, para isso é preciso uma luta constante.
A minha está durando a vida inteira. O desfecho é sempre incerto. Sinto-me capaz de fazer um poema tão bom ou tão ruinzinho como aos 17 anos. Há na Bíblia uma passagem que não sei que sentido lhe darão os teólogos; é quando Jacob entra em luta com um anjo e lhe diz: “Eu não te largarei até que me abençoes”. Pois bem, haverá coisa melhor para indicar a luta do poeta com o poema? Não me perguntes, porém, a técnica dessa luta sagrada ou sacrílega. Cada poeta tem de descobrir, lutando, os seus próprios recursos. Só te digo que deves desconfiar dos truques da moda, que, quando muito, podem enganar o público e trazer-te uma efêmera popularidade.
QUINTANA, Mário. A carta. Disponível em: http://www.fabiorocha.com.br/mario.htm . Acesso em: 26 nov. 2009. Fragmento.
Esses dois textos mostram que a luta com as palavras pode ser
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